Sofri abuso sexual por vários homens na infância e adolescência
A primeira vez que aconteceu eu tinha apenas seis anos. O filho de um amigo do meu pai (de uns 16 anos) fez sexo oral em mim. Lembro da roupa que eu vestia e que nossos pais conversavam animadamente na cozinha enquanto estávamos na sala. Por 3 vezes, ele perguntou: “Tá gostando?” Nas duas primeiras eu disse que sim, por falta de coragem de dizer o contrário. Depois ensaiei para ter força de negar e na terceira pergunta eu falei “não”. Então ele parou. Durante muitos anos da minha infância, eu sofri de culpa por ter permitido isso. Me remoía por não ter negado na primeira pergunta; pensava em formas de ter me livrado do corpo dele em cima do meu. Ensaiei contar para minha mãe por diversas vezes, mas nunca tive coragem. Minha mãe, que era muito tímida, nunca deu abertura para que eu falasse o que aconteceu. 20 anos depois eu o encontrei em uma festa e ele pediu para ficar comigo. Fiquei tão apavorada que nem consegui responder. Fiquei muda até ele sair. Quando tinha cerca de oito anos, lembro do porteiro da escola me agarrar por atrás e se esfregar em mim. Nessa mesma época um cantor de um baile que fui com meus pais pediu meu telefone e eu dei. Ele ligou e falou coisas pornográficas comigo, então eu desliguei o telefone. Quando eu tinha cerca de doze anos, o marido da minha irmã começou a abusar de mim. Ele se esfrega o corpo dele no meu; me apalpava; tentava tirar minha roupa e as vezes conseguia; me beijava na boca, lambia meu rosto; as vezes dava um jeito de abrir a porta do banheiro por fora, mesmo ela estando trancada, e me agarrava no banho. Muitas vezes eu acordava com ele em cima de mim, minha irmã havia saído de casa cedo e eu não tinha visto. Eu me debatia, mordia, batia nele. Ainda assim, continuávamos amigos. Todas as vezes eu relutava, dizia que iria contar pra minha irmã, ele pedia que não e eu aceitava. Tinha muitos problemas de relacionamento com meu pai, então sentia nele um apoio. Talvez o fato de meus pais terem um relacionamento machista e desrespeitoso (por parte de meu pai) contribuiu para que eu aceitasse isso. Ele me levava pra jantar junto com minha irmã e sobrinha; me levava e buscava em festinhas, coisa que meu pai não permitia. Quando fui sair pela primeira vez com um rapaz, esse cunhado me pediu para me ensinar a beijar na boca. E essa foi a primeira vez que eu consenti por medo de não agradar o menino. Meu primeiro beijo foi com o pedófilo do meu ex-cunhado. Dá nojo só de pensar. Isso durou dois anos, quando contei para um amigo dele. Em seguida comecei a namorar esse amigo, que contou para meus familiares sobre isso. Lembro de minha irmã me perguntar por que eu não havia falado pra ela e eu não soube responder. Meu pai chegou a insinuar que era por que eu gostava daquilo. Mas na verdade eu sofria muito. Uma vez uma psicóloga me disse que é comum crianças serem abusadas por homens diferentes, por apresentarem um comportamento que permite isso. Acredito que seja verdade. Já aconselhei a algumas amigas a conversar sobre sexo e pedofilia com suas crianças mas as pessoas não acreditam que isso seja comum. Após isso, tive vários relacionamentos abusivos. Em minha primeira relação sexual, não queria aquilo, pois não estava preparada. Mas com a insistência do meu namorado, acabei cedendo. Ficamos juntos por mais 3 anos, por insistência dele. Após 6 meses sentia que ele não era a pessoa certa pra mim, mas não conseguia terminar. Depois disso, fui traída e desprezada por outros homens várias vezes. Lembro de várias pessoas que eu transei sem ao menos desejar. Os homens me convenciam facilmente a ir pra cama e eu cedia, mesmo não querendo. Em minha vida pessoal também tive empregos que sofri assédio moral. Sempre tive dificuldade de acreditar em mim e minhas capacidades. Já mudei de área de trabalho por várias vezes por isso e a indecisão e medo sempre foi comum. Hoje acredito que está relacionado com tudo o que aconteceu comigo. Enfim, há 5 anos escolhi me relacionar com uma pessoa diferente do padrão anterior: um rapaz doce, que sempre me tratou com carinho e respeito. E então fomos felizes, certo? Não. Sempre me senti incomodada com o jeito dele de me dar o direito de decidir, de fazer as coisas para mim. Não me sentia sexualmente atraída por ela e quando não queria transar, me sentia culpada. Por várias vezes pensei em terminar com ele, mas sabia que seria um erro já que ele era realmente uma exceção a tudo que vivi. Via vários defeitos nele: muito tímido, achava que ele não tinha opinião sobre as coisas etc. Percebi então que eu queria um homem que tinha aqueles comportamentos dos anteriores que eu vivi. Há alguns meses resolvi terminar com ele, mas meu amor soube contornar a situação. Acredito que o fato de ele ter aceitado o término, já que eu não o amava, mexeu comigo. Continuamos juntos e hoje estamos noivos. Hoje sei que o amo e sinto tesão por ele. Acredito que finalmente, 22 anos depois, estou conseguindo superar as marcas do que aconteceu na minha infância.